Grupo de pesquisa ligado à linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná.

HGPE 2016: mais do mesmo em menos tempo

Começou às 13h desta sexta-feira (26), e se estende até dia 29/09, o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE). Os programas são veiculados em todas as cidades que possuem retransmissoras de televisão, duas vezes por dia entre 13h e 13h10 e das 20h30 às 20h40. No rádio o HGPE vai ao ar das 70h às 7h10 e das 12h às 12h10.

O que se pode ver de cara, neste primeiro programa para prefeitura de Curitiba, são as limitações impostas pela nova Lei Eleitoral, tanto no que diz respeito à produção dos programas quanto à veiculação. O HGPE foi reduzido a um terço de tempo do que era nas eleições de 2012. Para compensar, os programas das candidaturas majoritárias passaram a ser exibidos diariamente.

Em Curitiba, nove candidatos disputam a Prefeitura Municipal e, com apenas 10 minutos de tempo total, eles tiveram que adequar os programas ao cronômetro e às imposições legais. A redução é tanta que, para exemplificar, somente o candidato à reeleição em 2012, o então Prefeito Luciano Ducci, possuía, sozinho, 10’54” de HGPE.

Coube ao deputado estadual Tadeu Veneri, do PT, abrir o HGPE de 2016. Veneri usou seus 1’16” para se apresentar ao eleitor, falando de seu histórico político e criticar os “tradicionais grupos que dominam o cenário político de Curitiba”, apresentando assim um discurso de oposição ao atual Prefeito Gustavo Fruet, que concorre à reeleição, e que tem atualmente como vice uma integrante do Partido dos Trabalhadores. O candidato convidou os movimentos sociais e diversos grupos de minorias para se engajarem na sua campanha, dando assim uma demonstração de diálogo direto com esses segmentos da sociedade, o que deve dar o tom da sua campanha daqui para frente.

As coligação Frente de Esquerda, da candidata Xênia Mello (Psol), e o candidato Ademar Perreira do Pros, não apresentaram programa eleitoral.

Em seguida foi a vez da candidata Maria Victoria (PP). A filha do Ministro Ricardo Barros e da Vice-governadora Cida Borguetti, apresentou um HGPE onde retomou o discurso Lernista de cidade inovadora, criativa, moderna e tecnológica. Fazendo uso de desenhos que mostravam projetos do ex-prefeito e ex-governador, Maria Victoria se posicionou como candidata que irá fazer com que Curitiba volte a ter características de cidade planejada e moderna. A candidata se mostrou como uma mulher moderna e cosmopolita, fazendo alusão a viagens internacionais e também abordou sua trajetória política como deputada estadual para fazer frente às críticas à sua idade e experiência. Mesmo se apresentando como novidade, a candidata adotou um discurso conhecido e muito tradicional de candidata de oposição, não apresentando nenhum grande diferencial das demais candidaturas.

A ousadia veio com o programa do também Deputado Estadual Ney Leprevost (PSD), curiosamente um político tradicional e conhecido da sociedade curitibana. Leprevost apresentou um programa dinâmico com uma linguagem moderna que dialogava com as redes sociais e o mundo virtual. Coube assim a um político tradicional se apresentar como o candidato moderno e antenado, papeis que poderiam ser melhor reivindicados pelas candidaturas de Maria Victoria e Requião Filho; entretanto o candidato do PSD, apesar de mostrar um programa mais dinâmico, apresentou uma linguagem tradicional, com argumentos que já foram usados exaustivamente, para apresentar sua candidatura de oposição.

Gustavo Fruet (PDT) parece repetir a estratégia que o levou à vitória nas eleições passadas, se apresentando como um candidato acima de siglas políticas ou partidárias e investindo na sua imagem pessoal, endossada por lideranças políticas. A tradição familiar e seu histórico na vida pública alicerçaram a apresentação do candidato à reeleição. Aparentemente Fruet não se permitiu ousar, ao menos não nesse primeiro programa.
Com apenas nove segundo de HGPE, Afonso Rangel (PRP) se apresentou como um gestor e não um político de carreira.
Por mais que as questões de cunho financeiro das campanhas tenham influenciado visivelmente as campanhas, o Programa Eleitoral do candidato Rafael Greca (PMN) foi o que se mostrou com maior nível de produção, bem diferente dos programas apresentados pelo mesmo candidato em 2012. Greca repetiu o discurso que vem usando desde a sua pré-candidatura, para criticar a atual administração e se colocar como principal candidato de oposição. Novamente o discurso de retomar a vocação inovadora e moderna de Curitiba deu o tom. Aliás, esse deverá mesmo ser o discurso dominante nesta eleição.

O deputado Requião Filho (PMDB) encerrou a primeira veiculação do HGPE com um programa eleitoral quase que produzido amadoramente, não se sabe se foi de propósito ou por força das circunstâncias. Ele tentou se apresentar como mudança, alternativa de poder, mesmo vindo de uma família que tem um dos mais conhecidos expoentes da política paranaense. Requião Filho apostou em um discurso emotivo e em uma imagem pessoal forte para se firmar como oposição tanto ao governo municipal, quanto ao estadual.

Em resumo, a surpresa mesmo ficou por conta das mudanças imposta pela nova legislação eleitoral. De novidade pouco se viu neste primeiro programa dos candidatos à Prefeitura de Curitiba. A única certeza que fica é de que os candidatos terão que se esforçar muito para chamar a atenção do eleitor e eleitora e se sobrepor aos concorrentes em uma campanha em que, pelo visto, os aspectos legais e financeiros irão se sobressair ao marketing eleitoral.

Texto: Ricardo Tesseroli – Mestre em Comunicação Política e integrante do Grupo de Pesquisa em Comunicação Eleitoral da Universidade Federal do Paraná