escrito por Ludi Evelin Moreira
com direção de arte de Letícia Eduarda
O primeiro confronto entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, em 29/09, foi marcado por insultos e interrupções mútuas. O último encontro entre os candidatos ocorrerá nesta quinta-feira (22), às 22 horas (hora de Brasília), em Nashville, Tennessee.
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O primeiro debate presidencial, que aconteceu no fim de setembro e foi assistido por 65 milhões de estadunidenses, colocou frente a frente o atual presidente e candidato republicano à reeleição, Donald Trump (74), contra o senador democrata por Delaware, Joe Biden (77). Em um contexto marcado pela ausência dos comícios de rua, devido à pandemia do novo coronavírus, este debate tornou-se valioso para a disputa eleitoral.

Divulgação: Imagens Públicas.
À esquerda, o senador democrata Joe Biden e à direita o atual presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump.
De um lado estava o famoso bilionário do ramo imobiliário, sem carreira política consolidada, mas especialista em promover-se midiaticamente. Do outro, o ex-vice presidente de Barack Obama com meio século de carreira política e conhecido por titubear nos próprios discursos, embora tenha conseguido unificar o partido democrata em prol da sua candidatura. Como curiosidade, ambos são os candidatos mais velhos da história a concorrerem à presidência dos Estados Unidos.
Mediado pelo jornalista Chris Wallace, da Fox News, o debate foi caracterizado por momentos caóticos e interrupções constantes, principalmente de Trump durante as falas de Biden. Um levantamento do portal G1 apontou que o atual presidente interrompeu Biden 77 vezes, enquanto o senador democrata – que não conseguiu explicar suas propostas eleitorais em diversos momentos – fez o mesmo em 22 oportunidades.
Este foi o principal motivo para que a Comissão dos Debates Presidenciais divulgasse uma nota após o encontro, deixando claro que “[seria] preciso acrescentar estruturas adicionais ao formato atual para os próximos compromissos, para garantir uma discussão mais ordenada dos temas”.
Organizado em seis blocos de quinze minutos cada, o debate abordou temas como Suprema Corte americana; pandemia do covid-19; protestos antirracistas; mudanças climáticas e integridade das eleições. Todos serão apresentadas na sequência:
SUPREMA CORTE

Com a morte repentina de Ruth Bader Ginsburg, a Suprema Corte Americana, antes composta por quatro juízes conservadores e quatro progressistas, pode voltar novamente a ter maioria conservadora. Foto: AP Photo/Stephen Savoia.
É claro que a morte da juíza Ruth Bader Ginsburg, em 18 de setembro, sacudiu o cenário político dos Estados Unidos, assim como a rápida indicação da magistrada ultraconservadora, Amy Coney Barrett, por Donald Trump. Embora a nomeação dependa da votação do Senado americano, a atitude do presidente foi duramente criticada pela oposição e, no debate, por Biden, que acusou o adversário de “abuso de poder”, uma vez que o Senado é composto majoritariamente por republicanos. “O povo americano tem direito de ter uma opinião com relação à Suprema Corte (…). Eles não terão essa oportunidade agora porque já estamos no meio da eleição”, disse o senador do estado de Delaware, defendendo a nomeação de um(a) novo(a) juiz(a) somente após o resultado das eleições americanas.
É importante lembrar que a Suprema Corte dos Estados Unidos é formada por nove juízes com cargos vitalícios e poder, inclusive, para alterar a legislação do país. O interesse na substituição imediata é a oportunidade de adicionar mais um juiz com interpretações favoráveis às políticas republicanas na Corte.
Trump rebateu seu adversário ao alegar que os republicanos têm o direito de escolha, pois elegeram a maioria nas últimas eleições.
“Vocês tem noção do que esse PALHAÇO está fazendo? (…) O povo precisa dar a sua opinião votando. Exprimam seus sentimentos através do voto! Façam com que sua voz seja ouvida!”, disse Joe Biden, irritado pelas constantes interrupções.
COVID-19
A forma como a pandemia vem sendo conduzida em solo norte-americano também rendeu discussões acaloradas. Atualmente, os Estados Unidos somam sete milhões de casos confirmados de covid-19 e mais de duzentas mil mortes ligadas às complicações da doença – o que coloca o país na liderança mundial em ambos os rankings. Segundo pesquisa encomendada pela Associated Press, 58% dos americanos desaprovam as medidas do governo no combate à pandemia.
Amparado por estes números, Biden acusou o republicano de não ter feito nada para conter a propagação do vírus desde fevereiro, enquanto o democrata disputava as eleições primárias: “Você deveria sair da sua casa, do seu bunker, do seu campo de golfe e reunir um grupo de pessoas suprapartidárias para salvar as pessoas”, alfinetou o democrata que classificou a decisão do governo de fechar as fronteiras do país, em maio, como “xenófoba e racista”.
Trump não se calou diante das acusações: “Se estivéssemos ouvindo o que você tem a dizer, milhões de pessoas estariam morrendo e não duzentas mil (…). Até políticos democratas elogiaram o meu desempenho FENOMENAL”, afirmou o bilionário. “Enviamos equipamentos e ventiladores [aos estados], estamos a semanas da vacina, já fazendo testes e menos pessoas estão morrendo. O único problema foram as fake news [contra mim]. Criamos a maior economia da história. Ela foi fechada por causa da PRAGA CHINESA. Estamos reabrindo e 10 milhões de pessoas já voltaram a trabalhar, um recorde nunca visto antes. E ele quer fechar a economia de novo? Isso destruiria o nosso país”.

Imagens Públicas: Reuters. O moderador Chris Wallace teve dificuldades em controlar o debate, sendo interrompido durante a formulação das próprias perguntas.
Nesse momento, o mediador interrompeu: “Eu não quero erguer o tom da minha voz, mas atenção! São seis segmentos, vamos passar pro próximo. E nesse próximo teremos dois momentos sem interrupções (…). Depois o senhor fala sobre o que quiser. Concordamos que o país se beneficiará se não houver interrupções. Dirijo-me ao senhor para que faça isso”, disse Chris Wallace, olhando diretamente para Donald Trump.
“Diga isso a ele também”, replicou Trump.
“Sinceramente, o senhor vem interrompendo mais”, treplicou Wallace.
QUESTÕES RACIAIS
O assassinato de George Floyd por policiais brancos ocorrido na cidade de Mineápolis, Minessota, em 25 de maio, provocou uma onda de manifestações globais contra a brutalidade policial e o racismo, popularizando o movimento BLACK LIVES MATTER (Vidas Negras Importam). Embora as estatísticas factualmente comprovem o tratamento desigual da justiça para com os negros, nem todos os protestos supostamente ligados ao movimento foram pacíficos.

Crédito: Reuters. Na cidade de Minneápolis, manifestantes atearam fogo a uma loja em protesto pela morte de George Floyd.
Vandalismo, saques e incêndios criaram cenários de violência nas ruas de cidades de todo o país. Polícias de estados governados por republicanos responderam a estas manifestações com balas de borracha, gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral. Já nos estados democratas, as medidas tomadas foram mais brandas e, por isso, mais criticadas pelo presidente, que chegou a defender o envolvimento do Exército para conter os “criminosos”. Joe Biden, por sua vez, disse que a justiça é sistêmica e desigual para os cidadãos afrodescendentes: “Tem a ver com igualdade, equidade, decência e constituição. Nós nos afastamos dessas questões”, disse o senador, que tambén defendeu as reformas judiciária e policial.
Donald Trump culpou os extremistas da esquerda, que foram chamados de “terroristas Antifa” pelo presidente: “Quase tudo o que vejo [de violência] está ligada à esquerda”, disse Trump.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
No bloco reservado a este tema, o senador e ex-vice presidente defendeu uma participação mais efetiva dos EUA na preservação ambiental, citando, inclusive, as queimadas na Amazônia, que, como deu a entender, são um assunto de interesse internacional: “Eu vou reunir pessoas de todo mundo (…) e oferecer vinte bilhões de dólares para interromper essa destruição das florestas. Eu tenho certeza de que as consequência econômicas [da aplicação de sanções internacionais] serão enormes”, disse ele. O democrata defendeu ainda, a reinserção dos Estados Unidos no Acordo de Paris, cujos países signatários se comprometem voluntariamente em reduzir a emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa a partir de 2020.
Trump, que foi o responsável por retirar os Estados Unidos do acordo em 2017, rebateu as propostas de Biden sobre reduzir as emissões de carbono, dando a entender que planos como esse, em economias capitalistas de Primeiro Mundo, são utópicos. “[Com as suas propostas] os aviões teriam de sair dos céus”, disse Trump acidamente.
SEGURANÇA NAS URNAS
Não é novidade que Donald Trump seja um crítico ferrenho da votação feita pelos correios. O presidente acredita que um processo fraudulento já está em curso, além de dizer que recusará a reconhecer a apuração do pleito se houverem resultados atípicos, que indiquem manipulação dos votos: “Isso pode ser uma fraude como nunca vimos antes”.
Biden aproveitou os minutos finais do debate para fazer um apelo aos cidadãos norte-americanos para irem às urnas, já que o voto no país é facultativo. Olhando diretamente para as câmeras, o senador por Delaware pediu: “VOTEM! Vocês irão definir os resultados dessa eleição. Votem, votem, votem! Se puderem votar antecipadamente, façam isso. Se só puderem votar presencialmente, votem. Qualquer que seja o método de escolha. O controle é de vocês pra definir o resultado desse país pelos próximos quatro anos”.
Atualmente, Biden lidera as pesquisas de intenção de voto com dez pontos à frente de Trump, mas, historicamente, os resultados das eleições americanas são apertadas. Também é válido lembrar que, nos Estados Unidos, vigora o processo das eleições indiretas, em que os cidadãos norte-americanos votam para escolher delegados, que por sua vez compõem o Colégio Eleitoral, que vota nos candidatos à presidência. Ao final da disputa, o partido e o candidato que obtiver mais delegados, vence.
Entretanto, há um mês das eleições, outra notícia abalou a já escorregadia e instável corrida eleitoral. No primeiro dia de outubro, os principais jornais do mundo trouxeram a confirmação do diagnóstico positivo para covid-19 do presidente Donald Trump e de sua esposa, Melania Trump. Com isso, o segundo debate que estava agendado para o dia 15 acabou sendo transferido para a data em que ocorreria o terceiro e último.
QUINTA-FEIRA, 22
Em um novo comunicado divulgado nesta segunda-feira, 19, a Comissão de Debates Presidenciais anunciou que silenciará por dois minutos o microfone do candidato quando o adversário estiver falando. Na fase da discussão aberta, quando ambos os candidatos tiverem feito suas colocações iniciais sobre o tema, é que os dois poderão falar – e se interromperem – livremente. Porém, segundo informação divulgada pelo Portal G1, o candidato responsável pela interrupção dará, automaticamente, direito ao adversário de falar por um período extra, equivalente ao tempo em que for interrompido. O objetivo, com isso, é tornar o debate mais organizado e melhor aproveitado pelos eleitores.
Além da pandemia, Trump e Biden vão debater sobre a questão racial nos Estados Unidos, as famílias americanas, mudanças climáticas, segurança nacional e liderança. Novamente, o debate será dividido em seis blocos com duração de 15 minutos cada. A jornalista Kristen Welker, da NBC News, será responsável por mediar o evento.
É possível acompanhar o evento através do Portal G1 e da Globo News, que transmitirão com tradução simultânea às 22 horas, no horário de Brasília.