Grupo de pesquisa ligado à linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná.

Perfis distintos demarcaram a campanha eleitoral de Goiânia em 2016

A diferença de perfil dos dois principais candidatos que concorreram à Prefeitura Municipal de Goiânia, capital de Goiás, em 2016 marcou a campanha no 1o turno. Mesmo quando trataram de assuntos semelhantes, os postulantes transpareceram abordagens diferenciadas de fazer política e isso também pôde ser mensurado pelas temáticas tratadas nos respectivos Horários Gratuitos de Propaganda Eleitoral (HGPE) na televisão.

A proposta metodológica de Panke e Cervi (2011), que indica uma análise quantitativa através de uma Análise de Conteúdo, permitiu ainda definir aspectos qualitativos da campanha de Goiânia. Nesta linha, o exame dos perfis seguiu, conforme Braga et al. (2009), características socioeconômicas e ocupacionais dos concorrentes, fornecendo elementos para entender posicionamentos dos candidatos na campanha. A amostra foi composta de três programas semanais de cada candidato, totalizando 50% do HGPE.

Com um tempo menor no HGPE, Iris Rezende (PMDB), 83 anos, abasteceu sua vitória nas eleições 2016 no reconhecimento político a nível municipal, regional e nacional e chegou à vitória no primeiro turno com 277.074 votos (40,47%). O decano já tinha sido prefeito de Goiânia duas vezes, vereador, governador e senador por Goiás, tendo sido inclusive ministro da Agricultura no governo presidencial de José Sarney.

O segundo colocado, com o maior tempo de HGPE, foi o empresário Vanderlan Cardoso (PSB), 54 anos, considerado ainda em ascensão política embora já tivesse sido eleito prefeito de Senador Canedo (GO) e concorrido a governador. Vanderlan conseguiu levar o pleito para o 2o turno com 217.981 votos (31,84%) e travou com Iris uma disputa que dividiu a cidade.

Diante do desgaste perante o eleitorado depois de ter deixado o cargo de prefeito para concorrer ao governo em 2010, Iris Rezende se centrou em três temas que o fortaleceram para um novo entendimento eleitoral. Os temas priorizados foram Candidato (37,46%), em segundo lugar Infraestrutura (10,64%) e a seguir Desqualificação (10,19%).

Tabela 1 – Iris Rezende (PMDB) – HGPE TV 1o Turno

Tabela 1

FONTE: QUEVEDO (2016)

O HGPE do candidato eleito foi objetivo ao reconstruir a imagem como político de confiança. Percebe-se que, embora seja uma figura bastante popular, Iris teve que se reafirmar perante o eleitorado. Resgatar a sua biografia e as ações que o tornaram célebre como prefeito se tornaram pautas fundamentais para reconquistar os goianienses depois do abandono do último mandato. O tema Infraestrutura passou pelo tom biográfico de Iris, como o homem que fez e que faria mais. Depoimentos da população sobre o passado atestavam que valeria a pena votar novamente em Iris. A desqualificação buscou apontar os problemas mais urgentes da cidade.

O HGPE de Vanderlan Cardoso foi mais distribuído entre os assuntos, com cada programa mostrando maior variedade. O tema Candidato sobressaiu com 31,01%, mas o objetivo da campanha de Vanderlan sugeriu ser outro do de Iris. Vanderlan buscou se apresentar como arrojado, moderno, realista e competente. Enquanto se colocou como um candidato de forte tom administrador, aliou a capacidade empresarial à sensibilidade social em parceria com a esposa Izaura Cardoso. Ele teria a sabedoria empresarial e ela seria a primeira dama com o olhar às causas sociais.

O tema da Administração Pública teve 11,79% de presença na amostra analisada. Nesta categoria que se concentrou o diferencial de Vanderlan em relação a Iris: o pessebista era a novidade, que traria a experiência da administração privada para a administração pública, juntamente com as ideias do jovem candidato a vice-prefeito Tiago Albernaz.

O jargão empresarial entrava no discurso político quando a propaganda mostrava argumentos de que a administração que propunha não encareceria os impostos e que haveria efeitos práticos especialmente na melhora da saúde.

Tabela  2  – Vanderlan Cardoso (PSB) – HGPE TV 1o Turno

Tabela 2

FONTE: QUEVEDO (2016)

O acirramento do debate no HGPE mostrou a diferença de cada candidatura. Um embate entre os candidatos envolveu o tema Administração Pública (Gráfico 1), em relação à proposta das 8 regionais, ou seja, a descentralização da gestão da Prefeitura Municipal de Goiânia em pontos da cidade. Apresentada pela campanha de Vanderlan como algo novo, a proposta foi contestada e reivindicada como de autoria de Iris. Notou-se que o conceito de administração pública se alinhou aos respectivos perfis. O gráfico 1 mostra o comparativo temático dos dois candidatos.

Gráfico 1 – Comparativo temático do HGPE 2016 dos líderes de pesquisa

Grafico 1

FONTE: QUEVEDO (2016)

Iris Rezende, da tradicional matriz da política brasileira, ligava o caráter público do prefeito à característica de protetor do povo, que iria gerir a coisa pública para a população, mesmo que isto representasse algum paternalismo, enquanto Vanderlan deixou claro nos seus programas que “os princípios que regem a administração de uma cidade são os mesmos aplicados no comando de uma empresa”.

Assim, observou-se como cada um dos postulantes se posicionou e se apresentou para o eleitorado a partir da categoria Candidato. No caso de Goiânia, a principal diferença não esteve tão limitada ao fato de um ser mais conhecido que o outro. O que diferenciou ambos foi um embate implícito de duas óticas sobre a Administração Pública e sobre a apresentação do Candidato na forma de governar. Isso envolveu os estilos e a experiência dos políticos.

Autora: Josemari Poerschke de Quevedo

Esta publicação é um breve resumo do capítulo “HGPE 2016 em Goiânia: Os Diferentes Estilos dos Candidatos em Tela”, no livro recém-lançado pelo CEL-UFPR intitulado “Eleições 2016. Análises do HGPE em capitais brasileiras”.

Referências:

BRAGA, M. S., et al. Recrutamento e perfil dos candidatos e dos eleitos na Câmara dos Deputados nas Eleições de 2006. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 24, n. 70, 2009.

PANKE, Luciana; CERVI, Emerson. Análise da Comunicação Eleitoral: uma proposta metodológica para os estudos de HGPE. Revista Contemporânea. V. 9. No 3. 2011 (p. 390 a 403).

QUEVEDO, Josemari Poerschke. HGPE 2016 em Goiânia: Os Diferentes Estilos dos Candidatos em Tela. In: AZEVEDO JUNIOR, Aryovaldo de Castro; CASTRO, Fernando Emmendoerfer; PANK, Luciane. Eleições 2016: análise do HGPE em capitais brasileiras/organizada . Londrina: Syntagma Editores, (pp. 10-24) 2017. Disponível em: <http://bit.ly/2rsgEvq>.