Grupo de pesquisa ligado à linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná.

Aquarius: o filme político do momento que você tem que ver

Aquarius ganhou evidência no cinema internacional antes de chegar ao Brasil. No tapete vermelho do Festival de Cannes em maio a equipe do filme denunciava, meses antes da confirmação do impeachment de Dilma Rousseff, que o país passava por um golpe. Porém, a dimensão política do filme vai muito além.

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Neste que é um dos filmes mais contundentes sobre os dilemas da atualidade sociopolítica do país, Kleber Mendonça Filho dirige um trabalho esteticamente impecável e que expõe uma das chagas das sociedades: a especulação imobiliária. A película homenageia a música brasileira e Sonia Braga, por lhe oferecer um papel que pareceu planejado a ela – uma das atrizes brasileiras que conseguiu o estrelato para além do cercadinho nacional. Mas, acima de tudo, o filme denuncia a destruição da memória das cidades. Isto corresponde a fenômenos em decorrência da monetarização escandalosa do lugar de viver, como diria David Harvey. São os efeitos de uma gentrificação artificial e desprovida de afeto.

Sem dúvida, as cidades do esquecimento começam pelos vários lados abordados em Aquarius.

Por esses motivos e outros, o desconforto orgânico que o filme traz – e que virou o símbolo de resistência com várias sessões sendo finalizadas pelo Fora Temer da plateia – deve ser divulgado.

Listamos 5 motivos para você assistir Aquarius, o filme político do momento, caso ainda haja dúvidas:

1. Aquarius não é um filme premiado, não é um filme que vai disputar Oscar, mas é um filme em que a linguagem do cinema é magistralmente usada. Mexe com os sentidos.

2. As questões políticas levantadas na película podem atingir qualquer cidadão classe média e a qualquer momento. Sensação de despejo, hipocrisia religiosa, pressão do capital privado, desamparo familiar, tristeza, alegria, decepção, resistência cultural, preconceito, vingança, beleza e redenção. E muito mais.

3. Polêmicas que envolvam a classificação etária de filmes no Brasil tendem a revelar boas obras. Aqui, o diretor alertou sobre uma censura governamental que classificou em 18 anos. O filme poderia ter entrando na faixa de 16 anos ao exemplo de filmes fortes como Love e Ninfomaníaca.

4. Sagaz e alinhado ao espírito coxinhas X petralhas que tomou conta da nação, o filme usou como promoção a não recomendação de Reinaldo Azevedo sobre o filme. Quer motivo melhor para assistir?

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5. Independente do viés ideológico, o filme é extremamente atual e mostra uma Recife de hoje, castigada pela deformação estrutural e moral dos novos tempos. Conecta-se com os movimentos Estelita da própria cidade, o caso Pontal do Estaleiro e Cais Mauá em Porto Alegre e por aí vai. O diretor Kleber Mendonça Filho também está a frente do não menos interessante “O som ao redor ” (2012), disponível no Netflix.

Motivos não faltam para assistir a um retrato fiel do microcosmo nacional. Boa sessão!

Por Josemari Quevedo

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da UFPR.  Mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS na linha de Mediações e Representações Culturais e Políticas. Integrante do Grupo de Pesquisa em Comunicação Eleitoral da UFPR.