Grupo de pesquisa ligado à linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná.

Michel Temer na ONU: o Brasil da ‘normalidade’

Como parte da tradição inaugurada nas primeiras décadas das Nações Unidas, o Brasil foi o primeiro país a discursar na abertura da 73ª Assembleia Geral na manhã desta terça-feira (25) em Nova Iorque. O discurso proferido pelo presidente Michel Temer para a ONU teve início por volta das dez horas e quarenta e cinco minutos e trouxe como palavras de ordem o multilateralismo e a diplomacia.

Ao abrir o discurso, Temer encontrou pontos de aproximação com a presidente da Assembleia Geral, María Fernanda Espinosa, e do Secretário-Geral da organização, António Guterres. Enquanto este compartilha a língua portuguesa, aquela traz em sua origem latino-americana aspectos em comum. Da mesma forma, personalidades como Sergio Vieira de Melo e Kofi Annan foram trazidos à baila quando aspectos caros à contemporaneidade da comunidade internacional foram mencionados, caso dos direitos humanos.

 

Desafios contemporâneos

Já em suas primeiras palavras, o presidente mencionou os desafios enfrentados pela comunidade internacional que, ao reconhecer a imperfeição do sistema ONU, demonstrou preocupação com três tendências pontuais: o isolacionismo, a intolerância e o unilateralismo. Ao invés de demonstrar uma preocupação desinteressada, Temer apresentou o Brasil como um país que tinha respostas pragmáticas para cada uma dessas questões.

 

Intolerância, solidariedade e diálogo

No combate à intolerância, a resposta brasileira viria inspirada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, com diálogo e solidariedade, afinal, o país seria formado por “um povo forjado na diversidade*. As crises migratórias da Venezuela e da Síria foram ilustrações das ações altruístas do Brasil tanto em receber refugiados, quanto em cooperar financeiramente com países que sofrem por diferentes motivos.

 

Isolacionismo, abertura e integração

Consciente da interdependência entre as nações, a resposta do Brasil ao isolacionismo viria com mais abertura e mais integração, com uma política externa universalista nos diversos foros de negociação mundiais. Mercosul, Aliança do Pacífico, BRICS, CPLP, G-20, entre outros, foram blocos mencionados em referência à participação ativa do Brasil que apresentava “resultados concretos, com impacto direto para o dia a dia”. De certa forma, uma crítica indireta aos embates comerciais entre os Estados Unidos e a China, e às questões da Catalunha e o Brexit.

 

Unilateralismo, diplomacia e multilateralismo

Tangendo ao isolacionismo, a resposta do Brasil ao unilateralismo viria com mais diplomacia, e mais multilateralismo, termos que ditaram o tom do discurso. Para Temer, é necessário reformar instituições internacionais que não refletem o mundo contemporâneo, caso do Conselho de Segurança, petição repetida há décadas pelo Brasil, que se apresenta como protagonista em questões nucleares, ambientais e econômicas. Afinal, o Brasil seria a cabeça do multilateralismo, pois “Já demos reiteradas provas do que somos capazes, juntos, quando nos movemos por esses valores.*, disse Michel Temer.

Temer ainda trouxe à tona aspectos político-institucionais do Brasil e do mundo. As respostas à questão Israel-Palestina, aos conflitos no Oriente Médio e na península coreana, por exemplo, restariam no diálogo e na solidariedade. Quanto à situação interna, o orador afirmou que o Brasil vive uma “democracia vibrante, lastreada em instituições sólidas.*. Ao que tudo indica, a intenção do orador foi trazer a sensação de normalidade no país, tal qual foram os seus discursos anteriores para a Assembleia Geral: um país de avanços e de respeito à Constituição.

 

Michel Temer e o Brasil da normalidade

Por fim, ao mencionar os avanços e conquistas do país sob sua batuta, o orador apresenta-se como um líder que deixou um legado para o país. Que deixou um Brasil pronto para o seu sucessor, transmitindo suas funções com “a tranquilidade do dever cumprido*. Diante disso, tal qual nos discursos de 2016 e 2018, o Brasil foi apresentado como um país que vive a sua normalidade, uma nação de abertura para o mundo e preocupado com o desenvolvimento social.

 

Pedro Chapaval Pimentel é professor substituto no Departamento de Comunicação  da Universidade Federal do Paraná, membro do Grupo de Pesquisa Comunicação Eleitoral e mestre em Comunicação (PPGCOM-UFPR). Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia, defendeu a sua dissertação com análise sobre os discursos brasileiros na ONU entre os anos de 1985 e 2017.