Em 2016, a disputa para a Prefeitura de Belém (PA) contou com nomes conhecidos na política regional entre os nove candidatos ao cargo. O descontentamento com a política vigente parecia claro quando foi divulgada a primeira pesquisa eleitoral da Doxa (PA02067/2016, TRE-PA) em que 78,9% dos entrevistados classificava o governo do então prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB) como Ruim, Péssimo ou Regular Negativo. Além disso, 74,2% do total de entrevistados associou a imagem dele de forma negativa, sendo que as principais palavras relacionadas ao seu nome foram “Péssimo Administrador”, “Mau Prefeito”, “Mentiroso” e “Ladrão”.
Naquele cenário, a pesquisa indicava que os candidatos pelos maiores partidos nacionais (PMDB, PT, PSDB) tinham pouca chance de vitória e trouxe como principais concorrentes à Prefeitura os deputados federais Edmilson Rodrigues (PSOL) e Éder Mauro (PSD). No entanto, os resultados do pleito não corresponderam às pesquisas de intenção de votos e levaram Zenaldo e Edmilson ao segundo turno, com a diferença de pouco mais de dez mil votos. O tucano reelegeu-se com a soma de 396.770 votos (52,33% dos votos válidos), contra 361.376 de Edmilson Rodrigues (47,67%).
O candidato à reeleição Zenaldo Coutinho é um personagem conhecido na política belenense, já havia sido eleito vereador, deputado estadual e deputado federal. Detentor do maior tempo para propaganda durante o horário eleitoral teve como principais temas a projeção de sua imagem na categoria “Candidato”, ocupando 22,3% do tempo e a “Administração Pública”, com (19,7%). Assim, quase metade do seu tempo (42%) foi destinada à apresentação do candidato, ao desenvolvimento de sua imagem pública e à prestação de contas por meio dos êxitos logrados durante seu mandato.
Gráfico 01 – Temática de Zenaldo Coutinho no 1º Turno do HGPE televisão
O candidato é descrito como “o prefeito que vai fazer mais e melhor por Belém”. Essa frase, embora ambígua, podendo ser interpretada tanto como “o atual prefeito pouco fez, logo Zenaldo fará mais e melhor”, quanto “Zenaldo vem fazendo um bom trabalho e agora poderá fazer mais e melhor” é um tipo de estratégia retórica de apelo à verossimilhança. De acordo com Reboul (2004), o verossímil decorre do próprio objeto de modo que em questões políticas não se trata do que é verdadeiro ou falso, mas daquilo que é mais ou menos verossímil. A premissa de sua propaganda de que caso ele se elegesse em 2016 faria mais e melhor pela cidade continuaria sendo válida, independente das contestações a seu mandato como prefeito.
Edmilson Rodrigues é outro nome conhecido na política belenense. Foi deputado estadual, prefeito de Belém e cumpre mandato de deputado federal. Em 2005 deixou o Partido dos Trabalhadores (PT) e se filiou ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), é professor licenciado da Seduc-PA e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Como candidato à prefeitura de Belém ficou na frente em todas as pesquisas de intenção de votos e apresentou programas com duração média de 42 segundos, dando ênfase às categorias “Candidato” (43%), “Administração Pública” (15%) e “Educação” (14%).
Gráfico 02 – Temática de Edmilson no 1º Turno do HGPE televisão
Todos os programas analisados começaram com imagens do sol nascendo em Belém, o que liga sua candidatura à logo do PSOL e foram apresentados basicamente em três formatos distintos. Um deles gravado em estúdio tendo uma biblioteca como cenário, onde o candidato tinha conversas com a população e respondia a perguntas sobre temas variados e propostas e propostas de campanha. Este formato de HGPE é reflexo da pré-campanha do candidato que contou com uma plataforma chamada “Fala Belém” que serviu como base para a montagem de suas propostas de governo (PIMENTEL; FERNANDEZ, 2016).
O segundo formato utilizado teve como conteúdo a edição de trechos dos debates em televisão e o terceiro apresentava sua família e patrimônio. Levantamos a hipótese de que o primeiro e o terceiro formato serviram para posicionar o candidato como alguém próximo da população, aberto à participação e que almeja ouvir as demandas da população.
Em linhas gerais, o HGPE dos principais candidatos à prefeitura de Belém foi semelhante na utilização majoritária da temática “Candidato”, havendo, contudo, distinções significativas entre o uso delas. Enquanto Edmilson explorou sua imagem em aproximadamente metade do tempo dos programas analisados, Zenaldo dividiu cerca de metade do seu tempo entre este tema e a “Administração Pública”.
Embora as estratégias traçadas pelos programas eleitorais apresentados em televisão não possam ser entendidas como definidoras dos resultados de uma eleição, elas não podem ser desconsideradas. O caso das eleições de Belém ilustra isso, pois as pesquisas de intenções de votos apresentavam um cenário em que Edmilson esteve à frente em todos os momentos avaliados e terminou em segundo lugar. Já o Zenaldo, que começou a disputa em terceiro lugar, cresceu para segundo nas pesquisas realizadas durante o período de HGPE e acabou vencendo tanto primeiro, quanto segundo turnos.
Ainda, a discussão completa sobre as estratégias para o HGPE dos candidatos Zenalado Coutinho, Edmilson Rodrigues e Éder Mauro estão no capítulo “Belém: A Capital onde o Prefeito Passou da Desaprovação à Reeleição”, no livro recém-publicado pelo CEL-UFPR intitulado “Eleições 2016. Análises do HGPE em capitais brasileiras” aborda .
Autor: Pedro Chapaval Pimentel
Referências
PIMENTEL, Pedro Chapaval; FERNANDEZ, Pedro. As eleições municipais de Belém: um HGPE com personagens já conhecidos. Grupo de Pesquisa Comunicação Eleitoral, 09 set. 2016. Disponível em: < http://bit.ly/2rsgEvq>. Acesso em: 11 nov. 2016.
REBOUL, Olivier. Introdução à Retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004