Grupo de pesquisa ligado à linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná.

Folha abandona o Facebook: oportunidade ou crise para o jornalismo digital?

A Folha de S. Paulo anunciou que está abandonando sua página no Facebook. Detentora do maior números de curtidas face aos seus concorrentes nacionais, o grupo publicou artigo elencando uma série de críticas ao novo modus operandi da rede social online, que adotou novo algoritmo, dificultando a distribuição de notícias oriundas de empresas aos seus leitores.

Imagem: ZEENEWS

Imagem: ZEENEWS

Algoritmos são, em linhas gerais, uma sequência lógica de procedimentos utilizados para resolver uma tarefa pré-determinada. No caso do Facebook, a rede possui uma programação que determina o ranqueamento de conteúdos que são mais ou menos interessantes para cada usuário, o que varia de acordo com a experiência pessoal de cada um. Já no início de 2018, Mark Zuckerberg anunciou em seu perfil pessoal que a rede dará ainda mais prioridade aos posts produzidos por amigos e pessoas próximas com a justificativa de que o feed dos usuários se afastou do seu propósito original: conectar pessoas.

Assim, a difusão de conteúdos produzidos por empresas ou marcas passa a ser cada vez mais restrita. Na prática, o novo algoritmo passa a alimentar o feed dos usuários com aquilo que o próprio Facebook acredita ser mais relevante para cada um, criando uma espécie de efeito bolha onde opiniões distintas daquelas do usuário passam a ser excluídas do seu vínculo social. A expectativa de uma deliberação possível passa a ser, com isso, cada vez mais remota.

As características de um sistema são destacadas conforme o ângulo pelo qual estão sendo analisadas. Assim, a liberdade proporcionada pelo Facebook para a criação de conteúdos facilitou o que hoje conhecemos por fake news. Segundo estudo realizado pela própria Folha, a taxa percentual de interações após a mudança de algoritmos da rede apresentou variação positiva de 61% para as páginas que publicam fake news enquanto, por outro lado, diminuiu em 17% a interação em comentários, curtidas e compartilhamentos para as páginas das empresas de jornalismo profissional. Há, contudo, limitações naquilo que o estudo considerou páginas de fake news. Além disso, o Facebook parece não mais manter a força que tinha há poucos anos. De acordo com pesquisa realizada pelo Parse.ly, em 2017, a Google foi mais eficiente que o Facebook no tocante a distribuição de conteúdo online.

Vale lembrar que a mudança de algoritmos é recente e, por isso, ainda há pouco espaço de tempo para ter noção clara dos efeitos gerados. Porém, o fato da Folha abandonar a rede social online na qual era líder de curtidas pode trazer novas consequências negativas para o Facebook, caso outras empresas sigam o exemplo do jornal paulista. Tendo em vista o cenário dinâmico das tecnologias digitais, ainda é incerto se a decisão da Folha representa um novo rumo para as empresas jornalísticas no Brasil ou estaria apenas abrindo espaço para que as outras empresas do ramo comecem a se sobressair aproveitando a lacuna deixada pelo jornal.

Autores: Bruno Nichols e Pedro Pimentel